A MAGIA DA FILATELIA - artigo 07


A MAGIA DA FILATELIA – artigo 07

XICA DA SILVA E O CONTRATADOR

Um caso de amor que gerou uma telenovela e um filme de sucesso. Imagine ter algum documento ou uma carta desta época?

Demorou muito e isso é que faz a magia da filatelia.

Desde que comecei a colecionar cartas pré-filatélicas do Brasil eu pensava em conseguir uma marca postal de cada cidade brasileira. O objetivo inicial era apenas esse e só isso já foi um desafio enorme.

Colecionar e desenvolver uma coleção não é apenas um desafio financeiro. É preciso ter muita paciência e procurar sempre que possível pelas peças desejadas. São verdadeiros sonhos que podem virar realidade.

Como sou aficionado por televisão assisti, há muito tempo atrás, a telenovela Xica da Silva com Tais Araújo e Victor Wagner e mais tarde o filme com Zezé Motta e Walmor Chagas (figura abaixo).

A história se passa no Arraial do Tejuco, atual Diamantina, no século XIX.

Carimbos pré-filatélicos de TEJUCO (P-MG-64) e DIAMANTINA (P-MG-26)

Para ser mais preciso, o contratador de diamantes nomeado pelo Rei Dom José I, chegou no local em 1753. Chamava-se João Fernandes de Oliveira, assim como o seu pai e o seu avô. Na época não eram utilizados os termos Filho, Júnior ou Neto após o último sobrenome.

JOÃO FERNANDES DE OLIVEIRA

No início a coleção só tinha cartas do século XIX, pois as marcas postais passaram a ser frequentes apenas durante este século. Existem marcas postais raríssimas do século XVIII, porém até então eu não tinha nenhuma.

Na verdade, eu nem achava ser possível conseguir cartas entre 1700 e 1799 e muito menos anteriores à 1700.

Sempre à espreita, um determinado dia surgiu uma peça enviada no dia 15 de setembro de 1753 de Portugal para o Governador do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, chamado Joseph Antonio Freire de Andrade. Do lado externo aparece a indicação “Por El Rey” e na parte interna a assinatura “Rey”. No caso era o Rei Dom José I que passou pelo terremoto de 1755, dois anos após o envio desta missiva.

FRENTE DA CARTA PARA O GOVERNADOR

ANOTAÇÃO NA BORDA DA CARTA DE NOMEAÇÃO

Ao ler o interior desta carta fiquei ainda mais surpreso. Não era a assinatura do Contratador de Diamantes João Fernandes de Oliveira, mas era a nomeação dele para a posição de Contratador de Diamantes. Foi uma sensação enorme conseguir uma peça assim.

INTERIOR DA CARTA DE NOMEAÇÃO DO CONTRATADOR

ASSINATURA DO REI DOM JOSÉ I

RELEMBRANDO A HISTÓRIA

Chica da Silva era filha de Antônio Caetano de Sá e da escrava Maria da Costa, proveniente da Costa da Mina, onde hoje se situam Benim e Nigéria.

Ainda jovem, Chica foi escrava do médico português Manuel Pires Sardinha e com ele teve um filho chamado Simão Pires Sardinha.

Em 1754 chega ao Arraial do Tejuco o contratador João Fernandes de Oliveira, em substituição ao pai homônimo, que fora contratador do local desde 1740. Este novo contratador adquiriu Chica da Silva em 1754 e neste mesmo ano deu-lhe carta de alforria. Com Chica da Silva ele teve 13 filhos durante os 15 anos de união.

Este romance tórrido e duradouro chegou até nós nas diferentes telas, pois uniões estáveis entre brancos e escravos não eram usuais. O casal morou onde atualmente é a praça Lobo de Mesquita, nº 266 em Diamantina.

CASA DA CHICA DA SILVA

Em 1770 João Fernandes de Oliveira voltou para Portugal com quatro filhos, ficando a Chica e suas filhas no Arraial. Os filhos receberam excelente educação e Chica herdou o suficiente para viver bem na sociedade local até o final de seus dias.

O seu corpo foi exumado em 2015 e o corpo foi levado para a “Arizona State University”. Pretendia-se reconstruir o rosto da assim denominada “Rainha das Américas”. Nos USA extraíram o DNA dela sem autorização e a devolução dos restos mortais só ocorreu em 5 de maio de 2017, após grande disputa judicial que envolveu o Iphan, a Interpol e o Consulado do Brasil nos Estados Unidos.

Posso afirmar que a filatelia tem mesmo QUASE TUDO. Este é o mundo mágico da filatelia e que talvez você não conheça.

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