Os blocos: o seu papel e importância na filatelia


Os blocos: o seu papel e importância na filatelia

agosto 18, 2018

Artigo do filatelista Guilherme Ribeiro

Todos nós filatelistas estamos acostumados com os blocos, mas creio que poucas vezes paramos para pensar em sua importância, e o porquê deles serem emitidos. Este artigo traz uma contextualização dos blocos na filatelia, buscando trazer uma abordagem mais ampla sobre esse tipo de peça filatélica.
"Etimologia" do termo "bloco"

Os blocos também são chamados de souvenir sheet (inglês), blocco foglietto (italiano), hojita (espanhol), briefmarkenblock (alemão) ou bloc feuillet (francês).

No Brasil são chamados de bloco comemorativo, ou simplesmente bloco, pessoalmente eu prefiro os termos em espanhol e em inglês, pois em minha opinião eles são mais apropriados para se referir a estas peças, na medida em que “bloco” também pode ser referir a um múltiplo de selos unidos (figura 1).

 

figura 1: outra definição de bloco - muitos selos unidos

 

Acredito que o termo “bloco comemorativo” não é o melhor termo também devido ao fato de que com o passar do tempo os blocos passaram a englobar também outros tipos de emissões, podendo trazer até mesmo selos regulares.
Penso também que o termo “souvenir sheet” é mais apropriado para se referir aos blocos, a origem deste nome será tratada mais adiante. Mesmo que o termo usado não seja o mais apropriado compreendo que isso não atrapalha na plena compreensão do que representam estas peças filatélicas.
Como este é um termo já enraizado na cultura e tradição filatelista será usado o termo o qual estamos acostumados.

O surgimento dos blocos na filatelia

O primeiro bloco da história da filatelia foi emitido em 1923 pelo Grão-Ducado de Luxemburgo, ele foi emitido em comemoração ao aniversário da princesa Elizabeth (figura 2), Estados Unidos e França foram alguns dos países que logo seguiram a ideia deste pequeno país.

 

Luxemburgo, 1923: primeiro bloco do mundo

 

As primeiras emissões de blocos na filatelia mundial se caracterizaram por geralmente comemorar exposições filatélicas (figura 3), nestas ocasiões os blocos eram emitidos para serem vendidos como uma espécie de recordação da exposição, um souvenir, foi daí que surgiu o termo “souvenir sheet”.

 

Estados Unidos, 1926: um dos primeiros blocos do mundo homenageou uma exposição filatélica

 

Com o passar do tempo, as autoridades postais logo perceberam que a emissão de blocos era extremamente lucrativa, e passaram a ampliar o número de emissões e também dos temas abordados. Veja também: Coleções temáticas: as exposições filatélicas.
 

Os blocos na filatelia brasileira

Seguindo as tendências internacionais, o Brasil emitiu seu primeiro bloco em 1938. Este bloco foi emitido em comemoração à 1ª Exposição Filatélica Internacional – “Brapex”, que ocorreu no Rio de Janeiro (figura 4).

 

Exposição Brapex de 1938: primeiro bloco brasileiro

 

O Brasil sempre manteve um plano normal de emissões de blocos, ou seja, não emitiu poucas peças, mas também não foi um emissor abusivo. Com relação às temáticas, podemos ver que existe uma ampla gama de temas abordados, o que faz com que os blocos brasileiros sejam muito bem-vindos em coleções temáticas, e também faz com que a coleção do Brasil não se torne monótona, o que poderia ocorrer se houvesse sempre emissões com o mesmo tema retratadas nos blocos.

 

Brasiliana '83: maior série de blocos do Brasil

 

O Brasil também possui algumas peças muito cobiçadas no que diz respeito aos blocos, talvez as mais procuradas sejam as séries dos blocos Brasiliana de 1983 (figura 5) e a da Exposição Mundial de Nova York de 1940. Isso sem contar o grande número de variedades que se tornaram o sonho de qualquer colecionador.

As características dos blocos com o passar dos tempos

Como vimos anteriormente, no início os blocos traziam uma pequena diversidade de temas, porém com o passar dos tempos eles passaram a trazer novas temáticas.
Outro fator a se considerar é que os blocos passaram por transformações em seu design com o passar dos tempos, pois no início eles normalmente traziam um fundo sem desenho que trazia apenas as legendas explicativas e o(s) selo(s) podiam ou não ser emitidos em multiplicidade dentro do folheto (um exemplo disso é o bloco da figura 6).

 

Estados Unidos, 1934: comemoração da exposição filatélica nacional, bloco trazendo 6 exemplares do mesmo selo

 

Com o passar dos tempos, e consequentemente com o aumento do número de blocos emitidos no mundo todo, estas peças passaram a ser emitidas de forma diferente, trazendo por exemplo margens desenhadas que completavam os desenhos trazidos nos selos (um exemplo disso é o bloco da figura 7).

 

Estados Unidos, 1976: múltiplos selos compondo uma imagem

 

Além disso, passou-se a emitir também blocos com formatos diferentes (figura 8), e também há aqueles emitidos em materiais diferentes como o tecido, por exemplo, (figura 9).

 

Blocos com formatos diferentes e produzidos com outros materiais

 

A relação entre as entidades postais e a emissão de blocos

Vemos que as entidades postais podem se posicionar de maneira diferente com relação aos blocos, enquanto algumas preferem seguir um programa de emissões com muitos blocos, outras preferem emitir poucas peças assim.
Normalmente os países que visam seguir uma programação de emissões mais “enxuta” acabam emitindo poucos blocos, enquanto que aqueles que visam emitir um número maior de peças acabam por emitir mais blocos, podendo ter muitas vezes um comportamento abusivo.
Um exemplo de país que não emitiu muitos blocos é o Reino Unido, para se ter uma ideia, o seu primeiro bloco foi emitido somente em 1978 (figura 10).

 

Primeiro bloco britânico

 

Por outro lado temos uma infinidade de outros países que têm um programa filatélico voltado para a emissão de blocos, visto que estes têm geralmente têm uma procura maior no comércio filatélico. Porém isso favorece o surgimento de um problema para os filatelistas: as emissões abusivas.

Emissões abusivas: o lado negro dos blocos na filatelia

Infelizmente muitos países emitem uma grande quantidade de selos que não se destinam prioritariamente ao uso postal, as chamadas emissões abusivas. Essas peças filatélicas são emitidas por administrações postais que visam obter ganhos oferecendo essas peças diretamente ao mercado filatélico mundial. Veja também: Uma análise sobre as emissões abusivas: um guia para entender essas emissões.

Os blocos constituem um ponto chave das emissões abusivas, visto que estes são mais atraentes e facilitam a venda, é por isso que a maior parte das emissões é composta por uma série de selos e por um ou mais blocos, desta forma, o conjunto todo é oferecido aos filatelistas, aumentando o valor da receita obtida.
Peças assim raramente são vistas com carimbo postal ou sobre envelopes circulados. As emissões abusivas podem ser ainda constituídas por selos e blocos em versões com ou sem picotes. Um exemplo disso são os selos da Guiné Equatorial das décadas de 1970 e 1980, este país geralmente emitia uma série de selos e um bloco com picote e emitia uma série de selos e um bloco também sem picote com alguma diferença de cor ou desenho (figura 11).

 

Blocos com e sem denteação de uma mesma série

 

Os aspectos que influenciam o valor dos blocos

Vemos que os blocos normalmente valem mais que os selos comparando-se selos e blocos que têm a mesma procura. Obviamente isso ocorre devido principalmente ao fator tiragem, ou seja, normalmente os blocos são impressos em menor número.
Isso ocorre porque a procura sobre eles é relativamente pequena nas agências postais, pois eles interessam quase que somente aos filatelistas, não são práticos para o uso postal cotidiano.
Como vemos anteriormente, os blocos foram criados para atender ao público filatelista, mas não oferecem praticidade para serem usados nas cartas, pois normalmente são grandes e necessitam de cuidado ao serem colados nas cartas, isso faz com que o trabalho do atendente do correio seja menos proveitoso.
Outro fator que limita a tiragem dos blocos é o valor de custo para produzi-los, pois estes demandam mais papel, tinta, goma entre outros requisitos como energia e trabalho assalariado, isso sem contar que muitos blocos normalmente são produzidos com melhor acabamento, o que aumenta ainda mais os custos.
Porém este fator econômico por si só não é limitante para o número de blocos emitidos, pois o custo maior para produzir os blocos é compensado pela maior procura que existe sobre eles, mas essa procura não é muito maior do que o número de filatelistas existentes.
Desta forma, as entidades postais procuram emitir um número de blocos de modo a satisfazer da melhor maneira possível essa relação entre custo de produção e demanda filatélica, vemos que atualmente países como o Brasil emitem apenas algumas centenas de milhares de blocos, enquanto que outros países onde a filatelia é mais desenvolvida como os Estados Unidos as emissões de blocos chegam a ter uma tiragem que ultrapassa a casa dos milhões.

Conclusão

Em suma, através deste artigo podemos ver de maneira rápida uma análise sobre essas peças postais que tanto encantam os filatelistas, seu histórico, sua relação com as administrações postais e suas características, não pretendo por meio deste esgotar este assunto, pois este é um grande campo dentro da filatelia que pode ser analisado de muitas formas.

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